domingo, 16 de maio de 2021

DESUMANIZAÇÃO DO HOMEM NEGRO - por Ada Koffi


A vida  do homem preto perpassa por várias questões. O que trago aqui pra refletirmos juntos é sobre a masculidade, que com o passar do tempo se transformou em masculidade tóxica.

O machismo foi inteiramente idealizado, estruturado, exercido e mantido pelos homens brancos, e caminha lado a lado com a homofobia, sendo parte de um sistema patriarcal hegemônico, tido como modelo de civilização  que impõe poder, disputa e controle sobre tudo, desrespeitando  por acharem que são superiores, e tira de homens pretos a humanidade. Não se pode negar que  homens  pretos experimentam todos os dias o machismo, mas é importante  pontuar que isso não se originou deles.  E porque dizer que homens brancos idealizaram a masculidade tóxica, e homens pretos não?
A reposta é simples, a África é matriarcal.

Como dito anteriormente sabemos que essa masculidade que é toxica não se originou nem foi idealizada por homens pretos, são várias formas violentas de tentativas de desumanização, coisificação e animalização dos corpos de homens negros através da diáspora forçada, a qual desencadeou processos de (re)invenções e readaptações de suas respectivas identidades, masculinidades e sexualidades.

Os homens  negros  não obtém nenhum tipo de benéficio ou vantagem sobre isso, ou seja, dentro dessa masculidade tóxica que é de origem ocidental, o homem negro é inserido desde sua infância num contexto de guerrilha, onde ele é a face do inimigo, intensificando e ampliando assim as provabilidades desse homem adquirir atitudes e expressões violentas dentro sua masculinidade e virilidade. O corpo preto nessa sociedade é tido como a maior ameaça de uma sociedade que por sua vez é genocida.

Pesquisas apontam que os homens  negros são os que mais:
Morrem pelos policiais;
São acusados de roubos ou furtos;
São condenados sem provas.
São ligados à imagem de estupradores. Inclusive o fato do homem preto ser ligado um homem estuprador é um mito equivocado. 

É criada uma imagem de que o pai negro não valoriza a paternidade
como algo divino e inspirador.
Nessa sociedade racista  eurocêntrica há um apagamento constante da sensibilidade, afeto e sentimentos do homem preto, prevalecendo a narrativa de que eles não sentem e que não são  afetuosos com seus filhos, sendo postos pela sociedade como inimigos das mulheres pretas.

Grande parte dos homens   
que não conseguem arcar com pensão alimentícia são  negros.
As condições econômicas de muitos desses pais negros que não vivem com seus filhos, se comparadas com as condições financeiras de homens brancos nem sequer  se aproximam, essa população recebe menos que as pessoas brancas, independente do nível de escolaridade pesquisas apontam que tanto nas ocupações formais quanto nas informais, trabalhadores brancos recebem consideravelmente mais que pretos, portanto, as mulheres negras são as mais prejudicadas nesse país.
Mulheres negras têm um rendimento salarial  abaixo da metade da renda do homem branco, e isso por que "O BRASIL NAO É UMA PAÍS RACISTA"!

Muitas mulheres negras se tornam mães solos criando seus filhos com muito esforço, na maioria das vezes  recebendo menos que um salário mínimo. Situação essa que não deveria ser romantizada, pois é cruel e de uma covardia sem igual. Privar uma criança desse convívio e não dividir essa responsabilidade com a mãe, pois ser pai é muito mais que um registro. 

Esse texto não tem como finalidade  "passar pano" para homens negros, e sim gerar uma reflexão acerca das complexidades que perpassam por esse corpos. Se pudermos parar para refletir sobre a palavra TÓXICO iremos obter a seguinte resposta: "O que produz efeitos nocivos".

Agora lhes pergunto:
-Nocivo pra quem?
Para todos, inclusive para ele mesmo!
É de suma importância saber que sim! É possível a cada dia a desconstrução constante do machismo que feri, oprime e mata.

- ADA KOFFI
(Dançarina, Coreógrafa, Cantora, Produtora e Ativista, Pesquisadora Empírica sobre Africanidades e Irmã Fraterna Fundadora da FPU)

domingo, 28 de junho de 2020

A MARGINAL - Artigo de Abner Fontinni

Cada vez que penso num marginal, eu me vejo marginal quanto o marginal na marginal, meu tempo de padrão ja foi, excederam! Correntes sociais não me contém mais, sai "soci" White não venha me estereotipar e me padronizar com seus "bons costumes". É que eu preciso de forças pra olhar pro céu e gritar, parem de nos mataaaaaaaaaaaar! Eu quero paz. Paz pra eu passar com meu salto quinze na rua 7, quero exercer o direito de ir e vir, livre como os pássaros, quero usar meu shortinho pra "zildar" no domingo tranquila, ja não quero mais me montar na rua, nem ser foragida por gente de mente fraca. Correr só se for pros abraços ou pros braços dos amados, aqueles que chamo de irmãs e irmãos, por passa na pele o sofrimento de ter que provar alguma coisa pra esse sistema racista, misógino e opressor, de ter que aceitar migalhas do presidente ou do governador, mas isso acabou, porque eu determino que termina em mim o que começou à 500 anos atrás com meu povo e agora sigo de cabeça mais que erguida, fluída dentre os gêneros que sempre fui e quis ser e hoje sou, EU SOU, sou por que nós somos.

#Marshapjhonson.
#favelavive.

- ABNER FONTINNI







sexta-feira, 26 de junho de 2020

DANÇAS URBANAS: Sobre o Embranquecimento da Arte

Ando refletindo um assunto que sempre vi ser questionado pelas pessoas, sem perceber que eu mesma era alvo destes questionamentos e que hoje consigo refletir com base na realidade que enfrentamos diariamente, não há ponto de chegar em uma resposta, mas sim, conseguir refletir melhor em quais seriam os motivos de muitos de nós dançarinxs pretxs não alcançarmos alguns espaços.

Os questionamentos são muitos mas irei citar alguns deles!


Então lá vai


Por que a maioria dxs dançarinxs urbanxs (que por sua maioria são negros) não se formam academicamente?


Por que não investem nas mídias sociais para divulgação de seus trabalhos ?

Por que muitxs dessxs dançarinxs não tem um currículo ou portfólio bem elaborado a nível profissional?

Por que muitos não conseguem participar de campeonatos grandes viajando pelo mundo?


O detalhe é que eu nunca percebia que na maiorias da vezes que ouvia e via tais quesionamentos era de pessoas não-pretas!

E que certamentee tinham condições financeiras muito boas, e como eu disse, eu era uma dessas pessoas que enfrentava e ainda enfrenta tal realidade. Minhas condições financeiras nunca foram muito boas, no máximo razoáveis, e quando digo razoáveis é quando o dinheiro não sobra mais dá pelo menos pra pagar as continhas do mês.


Agora vamos lá!!!


Nós que somos artistas sabemos bem que por mais que escolhemos uma área artística dependemos de várias ferramentas pra que nosso trabalho seja realizado, e acabamos exercendo outras profissões, fazendo funções que você que é privilegiado consegue facilmente produzir ou até mesmo pagar profissionais da área como: fotógrafos, video makes etc. Tudo pra ter um trabalho de extrema qualidade. Acho digno também a contratação desses profissinais valorizando-os, mas o problema nao é esse!

Já parou pra pensar de que forma essxs dançarinxs pretxs, que não tem condições financeiras pra investir na propria carreira se viram nessa sociedade racista aonde são tiradas, aliás! Na verdade nem são dadas as oporturnidades para que não lhes falte? Obviamente não! Somos obrigados a aprender na marra produzir nossos próprios materiais, editá-los etc...

Às vezes sem ao menos ter uma celular com câmera com uma qualidade ao menos razoável, mas mesmo assim fazemos da melhor forma possível por que somos resistência enquando vocês desfilam com o seus iphones sendo aplaudidos até quando erram.

Vejo dançarinxs pretxs se matando de estudar fazendo suas pesquisas sendo extremamentes técnicos no que fazem, e até dançando em sinais pra juntar uma grana com destino ao festivais por que a missão é participar, ter o que comer, dormir e voltar, enquanto você privilegiadx podendo ir para festivais grandes e caros onde a missão pode até ser estudar, mas que muita das vezes, o mais importante é bater aquela foto com aquele famozinho onde você consegue lotar mais uma vez o seu arsenal de seguidores, até por que business e hype é o foco.

Se isso é uma crítica? Talvez!

Acredito que agora devem estar mais uma vez afirmando que nós pretxs estamos de "mimimi" e que somos um bando de invejosxs que não conseguem ver ninguém se dar bem na vida, e que não sabemos o quão esforços vocês fazem pra estar aonde estão!

Mas agora me respondam!

Quando vocês não se deram bem na vida?

Não to dizendo que vocês não mexem seus pauzinhos, mas já parou pra pensar o quanto seu privilégio te ajuda estar aonde tu está?

Uma pessoa branca deve parar pra pensar seu lugar de modo que compreenda os seus privilégios que acompanham sua cor. Isso é importante pra que os privilégios não sejam naturalizados ou considerados apenas esforços próprio.


-Ah mas tem tantxs artistas que começaram de baixo e lutaram muito pra chegar aqui !!!


Muitxs de nos enfrentamos grandes difculdades para obter um diploma ou passar em seleções pra ganhar alguma bolsa e tentar vários possibilidades, e isso sempre é romantizado. Entretanto, ainda que seja bastante admirável que conseguimos superar grandes obstáculos, naturalizar essas violências e usá-la como exemplos que justifiquem estruturas desiguais, não é só cruel, como também uma inversão de valor, o incômodo se refere aos questionamentos e comparações que vocês fazem com nossas realidades que são incomparáveis.


Pensem ao menos nisso!

JÉSSICA VAGO
- Musicista, Dançarina, Coreógrafa, Cantora, Produtora/Ativista Cultural, Preta, Favelada e moradora de Vitória, Espírito Santo



sexta-feira, 22 de maio de 2020

Bixa, Preta, e seus Desafios na Favela

 A Gente nem sabe o que é ser bixa logo no inicio,  eu particularmente nem compreendia o porque de ser tratada diferente das outras crianças,  e desde pequena ja tinha a imensa mania de se montar, era salto alto, saia, pano na cabeça (para imitar os cabelos) e tinha que ser pano grande, só não passava batom porque não tinha, beincava de barbie e não entendia que mal tinha em ser essa criança toda viada, cresci mais um pouco e logo tive os desafios de lidar com meus desejos e impulsos sexuais, entrei na puberdade e já não entendia bem o meu corpo, fui eu viver a vida no fundamental,  sofri diversas repressões, so não apanhei porque ainda tinha pessoas que não tinha o tal preconceito ou porque era ser humano mesmo e me aceitavam sendo "diferente",  ainda assim eu tentei me padronizar pelo lado da religiosidade,  frequentava igrejas mas isso ainda não me dizia nada e nem era minha verdade, não me sentia parte nem nada, só estava ali por estar,  cresci mais um pouco e me disse gay, primeiro pra depois dizer aos outros, porque em toda minha vida as pessoas me gritavam, bixa, viado, viadinho, mona e ainda eu não entendia que tudo isso so acabaria se eu me gritasse bixaaaaa!, fora o peso de ser bixa eu ainda tenho o peso de ser preta, que vem o discurso da mãe protetora "seja duas, três, vezes melhor porque eles não terão pena de você" eu me perguntava,  eles quem? Eles pessoas que não abrem mão dos seus privilegios, que não tem consciência de classe, raça e gênero,  que não nos vêem quanto seres humanos, que nos diminui pela condição de identidade de gênero,  mas hoje eu duvido quem passe perto de mim sem ouvir sobre como é viver e ser bixa preta na favela, e vai ter aulinha de consciência racial sim, e vai ter que aceitar a gay afeminada porque além de divertida sou inteligente também. Eu entendi que o conhecimento ninguem me tira, a igreja vai me querer submissa, o sistema rendida e os brancos sem acessos. pretxs no topo!

por: Abner Fontinni

quarta-feira, 29 de abril de 2020

DEUS, e sua Cidade

A Campanha ISOLAMENTO SOLIDÁRIO, iniciada pelas irmãs Paty Borges e Lorraina Moraes (Fênix MC), culminou em uma visita ao bairro Cidade de Deus, depois de uma troca de ideias entre elas e outro Irmão Fraterno, Lucas Jaques (Bantu do Gueto), morador do município de Vila Velha, onde fica o Bairro.
Logo, foi iniciado mais uma missão para poder, de alguma forma, ajudar as famílias de Cidade de Deus, levando itens básicos de alimentação, limpeza, higiebe, e também brinquedos, roupas e enxovais para gestante em adiantado estado de gravidez.

Esse vídeo é resultado dessa visita...


sexta-feira, 24 de abril de 2020

A FRATERNIDADE QUE VEM DA FAVELA

A FRATERNIDADE PERIFÉRICA UNIDA (http://www.facebook.com/fraternidadeperifericaunida) é um grupo formado por pessoas que acreditam na Ação Fraterna, nas transformações sociais e nos Direitos Humanos Universais. Estamos presentes individualmente em inúmeros aparelhos públicos e privados, coletivos, fóruns, centrais sociais e associações ligadas a arte, cultura, música, ativismo, direito, saúde, juventude, mulheres e movimento negro. Acreditamos que o ato de "DOAR" não se resume a assistencialismos ou mirar troféus usando as mazelas sociais. Nossa missão é levar promoção, acesso e pertencimento às tecnologias sociais, a arte e cultura material e imaterial, ao capital social, e aos dispositivos educacionais e empreendedores, para desenvolver as potencialidades da periferia, e desenvolver equidade social e econômica para os âmbitos periféricos e seus agentes e atores sociais.


E, para dar início a nossas atividades, foi lançada a campanha "ISOLAMENTO SOLIDÁRIO" (https://www.facebook.com/photo?fbid=105512134474475&set=a.103546888004333), que tem como objetivo, ajudar e apoiar famílias de favelas, comunidades e âmbitos periféricos em geral. Nós nos organizamos afim de recolher doações e repassar a pessoas em situação de risco social extremo acentuado pela Pandemia de COVID-19. Sendo assim, são entregues alimentos, roupas, materiais de higiene pessoal e doméstico, entre outros. Esses materiais são doados por atores e indivíduos da própria comunidade, ou custeado por esse grupo de artistas e ativistas para o maior e melhor alcance dessas famílias, que não tem condições ou ferramentas (computador, Smartphone, internet, aparelhos públicos, instituições do governo, etc), para terem acesso as políticas de direito ou informações por parte dos governos municipais, estaduais e federais. Esse "KIT-FRATERNO" contém cesta básica, máscara. álcool em gel, produtos de limpeza, higiene pessoal e doméstica, e fralda/absorvente quando necessário. A ideia é trabalhar já com a grade de famílias já identificadas pela ação inicial, e por meio dessa grade, fazer o levantamento junto a Coletivos e grupos que já estão trabalhando com o mesmo método adotado pela ação ISOLAMENTO SOLIDÁRIO. Nossa meta é tentar garantir a continuidade de auxílio as famílias que dependem diretamente e emergencialmente desses materiais para garantir os mínimos recursos e cuidados na Pandemia pelo COVID-19.


Se você quer apoiar essa, ou alguma de nossas campanhas ou ações, entre em contato com a gente:
- (27) 98818-9781 (Whatsapp)
- (27) 99862-6128 (Whatsapp)
Ou se preferir doações diretas, trabalhamos com PicPay:
- @fraternidadeperifericaunida


Nós não trabalhamos na periferia,
nem ajudamos a periferia, tão pouco estudamos a periferia; nós SOMOS a PERIFERIA! E como diria Mano Brow: "...é o estilo Favela, mil respeitos por Ela".